A dor de cabeça é uma das condições mais prevalentes e condicionantes, sendo que cerca de 95% da população mundial já experienciou algum tipo de dor de cabeça em algum momento da sua vida.
Existem dois grandes grupos que caracterizam as dores de cabeça de acordo com a sua origem:
- Dores de cabeça de origem primária – que é o caso das dores de cabeça cervicogénica, enxaqueca e tensional;
- Dores de cabeça de origem secundária – derivadas de outras patologias.
Sendo as dores de cabeça de origem primária as mais comuns na população. Inclusive, uma revisão sistemática recente demonstrou que a dor de cabeça cervicogénica tem uma prevalência de 52%, a enxaqueca de 14% e a dor de cabeça tensional de 26% (Stovner et al., 2022).
Mas o que diferencia as diferentes dores de cabeça de origem primária?
- Enxaqueca – a dor é descrita como pulsátil, sendo geralmente unilateral, podendo ser sentida em volta de ou atrás do olho. É associada a náuseas e vómitos. Fotofobia (sensibilidade à luz) e fonofobia (sensibilidade ao som) estão presentes. Pode ocorrer palidez na face e mãos, e pés frios. Costumam ser desencadeadas por: álcool, comida, mudanças hormonais, fome, insónias, perfumes, stress, medicação, e fatores ambientais (poluentes, alterações da pressão de ar, temperatura…). Antes de a enxaqueca começar a pessoa pode sentir tonturas, alterações na visão (aura – manchas e luzes), fraqueza, parestesias e confusão.
- Dor de cabeça cervicogénica – a dor está presente na região occipital e espalha-se para a frente, sendo geralmente bilateral. Os músculos da cervical apresentam tensão, a dor costuma piorar com movimentos do pescoço e pode revelar-se diminuição da amplitude de movimento. Está associado a traumas ou problemas musculoesqueléticos. A sintomatologia pode ser semelhante às enxaquecas, podendo originar dor pulsátil, náuseas, fotofobia ou fonofobia .
- Dor de cabeça tensional – é descrita como uma pressão na cabeça, normalmente como se estivesse uma banda em redor da cabeça. A dor é bilateral ou global, e pode sentir os músculos da cervical altamente doridos ou sensíveis. Geralmente não tem sintomas associados. Pode piorar com sons altos ou luzes fortes. Associados a quadros de ansiedade, stress ou depressão (Goodman, 2017).
A OSTEOPATIA
O tratamento osteopático é uma terapia manual não-farmacológica e não invasiva, com recurso apenas às mãos do profissional, com o objetivo de melhorar a função fisiológica e ajudar a restaurar a homeostasia do corpo, que pode estar alterada por uma disfunção somática.
A consulta de osteopatia é formada por dois componentes – a examinação estrutural para chegar a um diagnóstico e o tratamento manipulativo. A identificação de disfunções somáticas baseia-se em alterações do tecido, como tensão muscular, ou na mobilidade de componentes somáticos. O tratamento pode ser realizado com uma grande variedade de técnicas, desde as técnicas miofasciais e articulares, até as músculo-energéticas e técnicas de impulso.
É de notar que nem sempre as técnicas manipulativas estão associadas a técnicas de impulso (fazer estalar), tal como referido anteriormente.
COMO A OSTEOPATIA PODE AJUDAR
A osteopatia pode ter efeito sobre dois mecanismos: aumentar o tónus parassimpático e inibir a libertação de substância pró-inflamatórias.
A dor de cabeça é associada a um desequilíbrio do sistema nervoso autónomo (dividido em sistema nervoso simpático e parassimpático), que tem como função regular o nosso estado emocional de fight or flight. O sistema nervoso simpático é responsável pelo nosso estado de alerta permitindo reagir rapidamente em situações de perigo, enquanto o sistema nervoso parassimpático permite que estejamos mais calmos e relaxados.
O panorama ideal seria ambos estarem em equilíbrio.
Quando o sistema nervoso simpático está predominante sobre o parassimpático, especificamente nos núcleos autonómicos responsáveis pela perceção da dor e dor prolongada, a dor de cabeça pode ocorrer.
Um aumento do tónus do sistema nervoso simpático vai levar, portanto, a um aumento da tensão muscular e libertação de substâncias pró-inflamatórias que vão manter o quadro de dor.
A osteopatia pode, neste caso, trabalhar a nível muscular e articular, e ainda ajudar a equilibrar o sistema nervoso autónomo, através de técnicas miofasciais e terapia sacro-craniana (Cerritelli et al., 2017).
Referências
Cerritelli, F., Lacorte, E., Ruffini, N., & Vanacore, N. (2017). Osteopathy for primary headache patients: a systematic review. Journal of Pain Research, 10, 601–611. https://doi.org/10.2147/JPR.S130501
Goodman, C. C. (2017). Differential diagnosis for physical therapists: Screening for referral (J. Heick & R. T. Lazaro, Eds.; 6th ed.). Saunders.
Stovner, L. J., Hagen, K., Linde, M., & Steiner, T. J. (2022). The global prevalence of headache: an update, with analysis of the influences of methodological factors on prevalence estimates. The Journal of Headache and Pain, 23(1), 34. https://doi.org/10.1186/s10194-022-01402-2