Tecnifisio Lagos – Fisioterapia Multidisciplinar

As crianças têm dores nas costas! Verdadeiro ou Falso?

Como fisioterapeuta, muitas vezes verifico que existe uma tendência por parte dos adultos para acreditar, que as crianças não sentem dor nas costas e não apresentam alterações posturais. Será verdadeiro ou falso? Neste artigo esclarecemos! O desenvolvimento da coluna vertebral do bebé para a forma considerada normal (forma de S), acontece normalmente até ao primeiro ano de vida e pode dividir-se em quatro fases. – Quando nasce o bebé tem as costas “arredondada” em forma de C, ao que chamamos de cifose total- nesta fase nenhum dos músculos que ajudam a alinhar a coluna e suportar o peso do corpo tem força suficiente. – Por volta dos 3-4 meses de vida começa a conseguir segurar a cabeça sozinho – nesta fase, a curvatura da cervical (pescoço) começa a formar-se e fica ligeiramente curvada para dentro, originando uma lordose cervical. – Por volta dos 9 meses, aprede a sentar-se e os músculos da costas ficam mais fortes – nesta fase, a coluna vertebral permanece arredondada na região central da coluna, desenvolvendo uma cifose torácica. – Por fim, a região inferior das costas (região lombar) começa a curvar-se para dentro, criando assim uma lordose lombar – esta fase termina por volta dos 12-18 meses, quando aprende a andar. Durante os primeiros 4 anos de vida dá-se um rápido desenvolvimento da coluna vertebral e do sistema nervoso, por isso os anos pré-escolares são já de extrema importância para a “definição e estruturação” da coluna vertebral das crianças. TUDO COMEÇA AQUI! A postura corporal é definida como a relação de um segmento corporal com o outro e com o ambiente (Kandel et al., 2013), sofre influências e, por isso,  pode vir a modificar-se no decorrer da vida, consequencia dos hábitos posturais, comportamentais ou até mesmo socioeconômicos (Noll et al., 2012). Uma postura inadequada pode resultar em vários problemas de saúde, como músculos do pescoço tensos, dores musculares, dores nos ombros, pescoço, costas e braços, dores de cabeça, má circulação, stress físico e mental e problemas relacionados com o sono. Mas… afinal é possível crianças apresentarem alterações posturais e dores nas costas? O período escolar é muito importante para o desenvolvimento do ser humano, pois é onde a criança recebe orientação e formação e permanece durante um longo período da sua vida. Existem evidências de que é durante este periodo que se iniciam as primeiras alterações posturais, e que a prevalência de problemas musculo-esqueléticos está a aumentar em crianças na idade escolar (Rajan & Koti, 2013). As alterações posturais e a dor nas costas afetam não só adultos, mas também crianças e adolescentes. Assim, ao iniciar a prevenção nos primeiros anos escolares, crianças e jovens podem aprender a adotar padrões de movimento e comportamentos posturais adequados. Quanto mais cedo se intervir a esse nível melhor! Desta forma, a criança aprende sem ter de corrigir padõres e hábitos inadequados adquiridos já de forma muito vincada (Santos et al., 2017). O que torna todo o processo muito mais simples! A questão que se coloca é: O que está na origem das alterações posturais das crianças? Este é um problema multifactorial. – Postura incorreta durante a utlização de tecnologia – computador, smartphone, consolas, etc. – Utilização de mochilas pesadas e de forma inadequada. – Levantar objetos de forma incorreta. – Manter posturas incorretas durante longos periodos de tempo sentado ou na posição de pé. – Falta de conhecimento sobre os cuidados a ter com as costas. – Diminuição da atividade física e aumento do sedentarismo. Estes fatores, podem ser agravados pelo ambiente escolar e educacional atual. Nas escolas não exitem móveis (cadeiras e mesas) ajustados à altura e estrutura de cada criança. Por outro lado, as crianças têm poucas oportunidades para se moverem ou mudarem de posição, acabando deste modo por permanecer na posição de sentado durante longos periodos de tempo. A juntar a isto, o avanço tecnológico, que se por um lado nos facilita a vida em diversos aspetos, por outro lado tem também consequências negativas. O corpo humado foi desenvolvido para se mover! Através do movimento desenvolvemos capacidades cognitivas e motoras como a coordenação, a força, a agilidade, o raciocínio lógico e até a autoconfiança. Nos tempos que correm, as brincadeiras na rua foram subtituídas pelos jogos de computador e consolas. Hoje as crianças têm um estilo de vida muito mais sedentário devido às novas tecnologias. O pesadelo da mochila! A utilização regular de mochilas escolares, frequentemente pesadas e desajustadas, apresenta uma multiplicidade de riscos, sobretudo durante o periodo de crescimento de uma criança (Mosaad DM, Abdel-Aziem AA, 2015; Silva D et al., 2016). As investigações destacam como principais consequências de carregar mochilas pesadas: Dor no pescoço. – Alterações posturais (alterações nas curvaturas da coluna vertebral). – Alterações do equilíbrio. – Dificuldade em realizar movimentos. – Diminuição da função ventilatória. – Alterações na pressão plantar e marcha – alterações no correto apoio do pé na marcha. O tansporte de material escolar é uma rotina diária que se repete durante anos consecutivos. Esta tem sido uma preocupação mundial, que tem levado pesquisadores de todo o mundo a desenvolver estudos na tentativa de justificar a quantidade de carga, que pode ser sustentada pelas crianças e jovens. Qual o peso que a mochila não deve ultrapassar? Como evitar o excesso de peso na mochila? Desde 1977 que existe refência científica à percentagem máxima de peso da mochila que uma criança pode transportar. Atualmente é aceite pela comunidade científica, que esta não deve exceder os 10% do peso corporal da criança, o que significa que o limite máximo será 1/8 do seu peso corporal (Voll H, Klimt F., 1977; Silva D, et al., 2016; Dockrell S, et al., 2016). Várias recomendações têm sido colocadas no sentido de colmatar as consequências do peso excessivo da mochila, nomeadamente melhorar o desing das mochilas; realizar programas de educação postural, como parte do currículo escolar; realizar rastreios regulares de avaliação postural e do peso da mochila; reduzir a carga/número de livros necessários; melhorar a gestão dos livros escola-casa; o uso de mochila com duas